terça-feira, 14 de junho de 2011

Intercâmbio – Etapa Le Creusot

Saudações queridos leitores e amigos!

Muito tempo se passou desde o meu último post, e nesse meio tempo, muita, mas muita coisa mesmo já aconteceu por aqui. Já tem um bom tempo que eu queria sentar e escrever aqui no blog, mas minha situação esse semestre tá bem diferente do que vivi há alguns meses e é exatamente a respeito dessa nova e íncrivel experiência que você vai ler aqui.

A Cidade:

Como dito no post anterior, me mudei para uma cidade chamada Le Creusot, localizada no interior da França, mais precisamente na região da Borgonha, famosa por seus bons vinhos e saborosos queijos, muitos dos quais, eu já tive o enorme prazer de experimentar.

A cidade possui uma forte raiz industrial o qual mantém até hoje. Com seus 27 mil habitante, arrisco-me a dizer que 50% da população trabalha em alguma das grandes empresas que cincuncida o “Centre Ville”. Percebe-se que tudo gira em delas e de seus empregados, e como atualmente me incluo nesse grupo, não reclamo nem um pouco hehe.

Mas se tem algo que está me surpreendendo e encantando por aqui é a íncrivel sinergia entre máquinas, metal e fogo com vales, colinas e verde...Eu explico.

A cidade em si fica dentro de um grande vale, onde estão concentradas todas as fábricas e centros de produções. Chaminés, reatores, enormes galpões, tudo isso você vai ver por aqui, mas basta sair e seguir 10 km em qualquer direção radial para fora do vale que a recompensa será uma das mais belas paisagens que pude encontrar aqui na França, as colinas da Borgonha.


Minha situação atual difere e muito daquela que tinha em Lyon. A mamata e as facilidades de um estudante foram “remplacés” pelas responsabilidades e desafios de um estagiário...Porém, eu to achando bom demais!

Em Lyon, eu tinha bastante tempo livre, era mais fácil adaptar os horários para concidir com algum evento ou viagem. A cidade era grande, com todas as suas facilidades e regalias, eu não tinha do que reclamar. Por aqui, o tempo é mais curto, passo o dia no trabalho e é mais difícil programar alguma viagem ou algo do tipo. Mas por íncrivel que pareça eu to curtindo e muito esse novo ritmo mais dinâmico. 

Eu aprendi a valorizar cada minuto livre que tenho, então cada momento tem um gostinho ainda mais especial. Sem contar que o trabalho é ótimo, então se tem alguma coisa que tenho pra reclamar, é do tempo que ta voando por aqui.

Minha rotina então, é só alegria, entro no trabalho as 9, então posso dormir todo dia um pouquinho mais e ainda acordo com tempo pra tomar café (Sim, eu estou tomando café todo dia hehe!). Moro bem perto do trabalho, numa distância que me permitiria chegar em 15,20 min a pé, mas graças à uma aquisição que contarei logo abaixo, me dou ao luxo de levar menos de 5 minutos para chegar ao trabalho.

O Trabalho:

Se eu pudesse imaginar um ambiente de trabalho, e recriá-lo para a realidade, acho que não obteria algo tão bom comparado ao ambiente que tenho aqui (Com excessão da ausência de um fliperama e uma máquina de doces dentro do escritório, algo que sempre achei que seria genial hehe).

Eu estagio no departamento de R&D da Thermodyn. Um local de referência em pesquisa e produção de turbinas e compressores pertecentes ao departamento de Oil & Gas da General Electrics.



Estou localizado especificamente na área de NPI (New Product Introduction) e digo que trabalhar por aqui é nada menos que genial. Estou cercado de engenheiros cujo currículos são maiores que meus livros de cálculo e as coisas que vejo no meu dia a dia são realmente incríveis.

Estou trabalhando com o que mais gosto e estou aprendendo bastante com o pessoal por aqui, to sendo cara de pau mesmo, sem medo de ser feliz ou de parecer ignorante (Diria que a maior parte do tempo hehe). E todos são super receptivos, com muita paciência e disposição para ensinar.

Isso tudo sem contar a fábrica, local que tento visitar toda semana, mesmo que não precise. Só de ver as enormes máquinas produzindo e sendo produzidas vale toda a caminhada até lá hehe. Todo dia eu me apaixono cada vez mais pela engenharia por aqui.

O Apartamento:

Como se não bastasse as bençãos, eu moro em um dos melhores lugares de Creusot hehe. Fica na parte superior do vale e é perto de tudo (de carro), com uma boa vista de grande parte da cidade. Divido o apartamento com um francês muito gente boa chamado Stanislas, que também estagia na GE. Aqui em casa a gente tem 2 quartos, uma cozinha, uma sala de estar e um banheiro. O apartamento já é grande, e depois de ter morado 6 meses em um quarto de 9 m² lá em Lyon, eu sinto que moro numa mansão hehe.


É realmente uma sensação muito gostosa voltar de um dia do trabalho, entrar em casa, pegar um suco gelado na geladeira, e se estender nessa poltrona aí na sala. Um processo que toma no mínimo 15 minutos diários e que me faz agradecer a Deus sempre, tudo que tenho por aqui.

 O Carro:

Eu quero poder chegar um dia para os meus filhos e contar histórias do tipo “Quando eu era jovem, eu fiz isso, isso e aquilo!” e em algumas dessas histórias o protagonista vai ser o meu Renault 19, ano 1989.

Seria uma injustiça não contar a história de como comprei o carro, então lá vamos nós.
Creusot é uma cidade pequena, não toma muito tempo para você ir de um lado a outro da cidade, mas o problema, é que fazer isso a pé não é tão agradável. Até tem ônibus por aqui, mas eles demoram muito pra passar, as estações não são tão perto e no domingo eles nem funcionam.

Primeiramente eu pensei em comprar uma moto ou uma scooter e a partir daí, fui à caça. Queria algo de segunda mão por causa do preço, e comecei a olhar todos os dias um site muito bom tipo mercado livre se encontrava algo ao meu alcance. Fiquei um bom tempo nessa, quando percebi que sairia mais em conta comprar um carro antigo, sairia pelo mesmo preço e teria muito mais possibilidades com um carro do que com uma moto.

Resolvi então mudar o foco da pesquisa, e fiquei mais um bom tempo procurando. O problema não era achar um carro usado, havia muita oferta, o problema era achar um carro usado e que estivesse de acordo com a regulação que o permitisse “rouler”. Passei quase 3 semanas procurando e de quebra aprendi muito do código de trânsito francês para ter certeza que faria tudo dentro dos conformes.

Liguei para vários números e já havia me encontrado com 2 proprietários nesse período, mas todos estavam pedindo um valor alto pelos carros que tinham, e eu não estava disposto a pagar tanto. Foi bom, ganhei experiência, entendi as regras do jogo e aprendi a negociar, pois o dia 4 de abril chegou sem avisar, e eu encontrara o campeão...

Liguei para um número que tinha achado no site e marquei um encontro as 18:30 em frente ao ginásio de esportes aqui da cidade, para ganhar aquela batalha, tinha que ser num terreno que conhecia bem...(na verdade eu aproveitei pois iria jogar bola por lá depois).

Chegamos meio atrasado, mas ele ainda estava nos esperando com seu filho de uns 10 anos, talvez para fazer uma pressão psicológica, não sei bem, mas eu não deixaria aquilo me comover! A primeira impressão que tive do carro foi muito boa, ele estava bem conservado por fora e por dentro, e tirando o fato de que estava um pouquinho rodado (Ahh vai 300000km não são nada) ele estava realmente bem cuidado.

Ele estava pedindo 550 euros no carro e eu havia aprendido uma lição importante nas ultimas negociacoes. Reclamar de tudo no carro, mesmo pequenas coisas que não fazem a mínima diferença fazem o preço cair consideravelmente hehe. Fui conversando, me virando com o francês de argumentação que havia aprendido e no final lancei o primeiro golpe, fiz uma oferta de 400 euros..que ele aceitou...e continuamos conversando.

Para que um carro possa rodar por aqui, é preciso que ele passe a cada 2 anos por uma visita de Controle Técnico, que verifica se todos os mecanismos de segurança estão funcionando bem. Mas para se comprar um carro, é necessário que esse controle tenha sido feito com menos de 6 meses, uma das razões pela qual foi tão difícil achar um carro que eu pudesse comprar. A maioria era vendido apenas para que se pudesse aproveitar as peças.

Eu já estava disposto a pagar os 400 euros mas vi surgir mais uma oportunidade de redução. Ele havia feito a visita técnica do carro exatamente naquela semana pois tinha a intenção de vende-lo, mas precisaria retornar para fazer uma contra visita e arrumar alguns pequenos detalhes. Eu fiz como se estivesse desconfiado, e continuei questionando e pedindo mais informações sobre a máquina. Mas foi depois de uma inspeção bem amadora do motor que achei a mina de ouro.

O carro era bem antigo, e percebi que o sistema de refrigeração a ar havia sido trocada para um de refrigeração a água. Até aí tudo bem, isso valoriza o carro, o problema é que por algum motivo, eles não retiraram o antigo tubo de ar, deixando um grande tubo solto no meio das peças. Na prática, isso não interfere em nada, mas se você olha para um motor de um carro e vê uma peça desconectada, a sensação de que algo não esta bem é instantânea hehe. Aproveitei aquilo e mostrei para ele. Argumentei que o carro era antigo, estava bem rodado, e que ele não conseguiria repassar para ninguém que não fosse um garagista, logo perderia dinheiro.

Ele ouviu tudo isso e antes que pudesse dizer alguma coisa eu soltei logo a conclusão de meu rodeio:
“Faz o seguinte, você leva o carro amanhã no controle, verifica tudo e se estiver tudo em ordem e eles disserem que o carro pode andar, eu te pago em espécie e na mesma hora 350 euros”

Ele titubeou um pouco, havia descido 200 euros do que havia pedido inicialmente, mas no final, graças a Deus hehe acabou concordando. Havia acabado de negociar meu futuro carro. Depois disso, foi só esperar. No dia seguinte ele me ligou dizendo que não havia vaga para levar o carro naquele dia, então teria que ser no dia seguinte. Disse que não teria problema, e que assim que estivesse pronto, ele podia me retornar. Dito e feito.

No dia 6 de abril de 2011 às 19 horas me encontrei novamente com ele e seu pequeno filho e após preencher a papelada e desembolsar as 350 européias, abri o carro, ajustei o banco, enfiei a chave na ignição e fiz roncar pela primeira vez o motor de meu novo brinquedo, um clássico e feroz Renault 19 GTS. Tem lá seus 300 mil km rodados (Um pouco mais nesse momento que estou escrevendo o post hehe), mas ainda anda que é uma beleza. Por ser velho, porém correr como nunca, o nomeei “Raptor”, e te asseguro que ele faz por merecer esse nome. Daí pra frente, foi só resolver a questão da matrícula do carro na prefeitura e ativar um seguro para o bixão. Foi a melhor compra que fiz durante toda minha estadia aqui na França, ter um carro facilitou e muito minha vida aqui em Creusot.



Enfim, depois de muito tempo, este é um pequeno resumo de como tem sido minha vida por aqui e posso dizer que to amando minha rotina. Já viajei para alguns outros lugares também, isso sem contar as inúmeras aventuras que vivi pelos arredores da Borgonha com o bravo Raptor, mas essas histórias, aquelas que espero um dia contar também para os meus filhos, ficam para a próxima...

Um Grande Abraço!

Salut! Et au Revoir!

domingo, 6 de março de 2011

O Estágio - Parte 2

O tempo passava, e a busca por um estágio continuava incessante, era currículo sendo enviado para as mais diversas empresas, em outros países inclusives, mas diferente do que eu estava imaginando, os resultados nunca eram positivos. Confesso que estava começando a ficar desanimado, minhas buscas não estavam tendo sucesso, e o tempo passava mais rápido do que parecia.

O natal havia chegado, e dei uma pausa nas pesquisas, em seguida veio o ano novo, e tive a oportunidade de viajar e conhecer o Reino Unido. Passamos um réveillon incrível em Londres, e foi somente no dia 3 de janeiro que voltei pra Lyon para o recomeço das aulas.

Para se conseguir um estágio, geralmente é preciso passar por um processo seletivo com entrevistas aos candidatos, para que assim, a empresa possa filtrar e escolher aquele que ela julgar ser mais adequado para o posto. Eu voltei para França daquela viagem com o coração mais tranqüilo, se fosse da vontade de Deus, uma oportunidade de entrevista surgiria e se Ele quisesse, eu conseguiria a vaga que estava procurando

Acordei no dia 7 de janeiro de 2011 um pouco mais tarde do que de costume pois não teria aula naquele dia, e foi o tempo exato de terminar de lavar o rosto e me arrumar para eu me dar conta de que o telefone estava tocando. Era um número desconhecido, e atendi em francês pois não tinha idéia de quem poderia ser.

Eu ainda estava naquela fase de lezeira de quem tinha acabado de acordar, mas quase pulei da cama quando eu ouvi: “Bom dia monsieur Carvalho, aqui é o RH da General Electric, estamos aqui com um currículo que o senhor entregou no fórum de empresas em novembro e gostaríamos de saber se o senhor ainda teria interesse de competir por uma vaga na GE.”

Eu não estava acreditando naquilo. Era a oportunidade que eu estava esperando e não conseguia acreditar que ela havia chegado. Ela me disse que eu teria que passar por uma entrevista, e após eu passar os dias que tinha disponível, me informou que eu receberia uma ligação do meu entrevistador. Desliguei o telefone, agradeci a Deus por aquela chance e imediatamente após tudo isso, comecei uma nova e difícil missão, me preparar para a entrevista. 

Haviam me enviado um email com a oferta da vaga e a missão do estagiário que fosse selecionado, e posso dizer sem dúvida, que se eu tivesse que escrever algo com que eu gostaria de trabalhar, não teria escrito algo tão empolgante como o que li naquele email. O tema era concentrado no domínio de fluidos, e se fosse selecionado, iria trabalhar com uma das coisas que mais gosto na engenharia mecânica, turbinas e compressores!

Passei o final de semana estudando para a entrevista, pesquisando sobre a empresa, coletando dados e quaisquer informações que pudessem vir a ser úteis. Na segunda feira liguei pro meu grande amigo Marcel e passamos mais de 40 minutos simulando uma entrevista, onde pude treinar e pegar algumas dicas com ele. Dormi naquele dia com o coração a mil, mas mais uma vez preciso falar, o Senhor estava no controle de tudo.

Dia 11 de janeiro de 2011 às 2 horas da tarde o telefone tocou, exatamente como eles tinham me avisado. Atendi com o coração saltando pela boca, mas graças a Deus, ao ouvir o bonjour, pude me acalmar e me concentrar para aquilo que havia me preparado. Ele começou falando sobre a empresa, área de atuação global e regional, falou sobre a vaga, sobre o trabalho que me seria dado e me deixou bem a par da situação. Em seguida me passou a palavra e pude então falar sobre meu currículo, sobre tudo com o qual já havia trabalhado, experiências profissionais, pessoais e outras coisas mais. Foi a hora que tive pra vender o peixe e aproveitei também para perguntar alguns detalhes da empresa e da vaga.

A conversa que tivemos foi muito boa, entendi bem a função que poderia vir a exercer e consegui falar tudo que havia planejado falar. Despedimos-nos, e ele falou que receberia a resposta em breve, caso fosse positiva ou negativa. Ao final da ligação eu estava confiante, mas era impossível saber o que ele tinha achado. Mais uma fase estava se iniciando, era hora de esperar o resultado e pensei comigo mesmo que aquilo deveria demorar muito. Mais uma vez, eu estava errado..

Naquela mesma semana, viajamos para Portugal, Bruno, Henrique e eu. Fomos conhecer um pouco mais dos nossos colonizadores ora pois e só me arrependo de não ter reservado mais tempo pra ficar lá. Chegamos quinta feira em Lisboa e dormimos num lugar muito bem localizado na cidade, mas foi na sexta feira de manhã, no dia 14 de janeiro de 2011, quando ainda estava no albergue que aconteceu aquilo com o qual havia sonhado e esperado. Havíamos acabado de acordar mas me lembro muito bem da cena.

Bruno e Henrique tinham ido ao banheiro escovar os dentes e eu fiquei no quarto para terminar de arrumar a mochila, foi nesse momento que meu celular tocou novamente. Saí do quarto para não acordar os outros hóspedes e atendi o celular sem noção nenhuma do que me esperava. Existe um versículo na Bíblia que diz que o Senhor faz muito além daquilo que pedimos ou pensamos, e essa ligação foi mais uma confirmação disso. Era novamente a madame que havia me ligado do RH da GE a alguns dias atrás e não vou me nunca esquecer as palavras dela ao telefone:

“...monsieur Carvalho, você passou por uma entrevista na terça feira e estou te ligando para saber...o senhor gostaria de fazer parte da equipe da General Electric?”

Nessa hora eu esqueci que estava num hostel e soltei um “bien sur” muito, mas muito empolgado hehe, ela chega riu com a minha resposta. Corri pra porta do banheiro pra tentar avisar os mlks, e enquanto falava com ela ao telefone tentava gesticular que havia conseguido. Eles não tavam entendendo nada mas naquela hora eu era só alegria hehe. Após conversamos mais um pouco, desliguei o telefone e continuava sem acreditar em tudo aquilo. Depois dali foi só festa, aproveitei muito Portugal e voltei pra Lyon com uma sensação de missão cumprida.

Hoje é dia 6 de março de 2011, quase 2 meses se passaram depois do resultado, passei esse tempo correndo atrás de papelada, resolvendo documentação, viajando hehe, terminando as matérias na faculdade, procurando um novo apartamento, mas acima de tudo, agradecendo a Deus pela maneira como Ele age na minha vida. 6 meses se passaram desde que cheguei aqui na França e já pude sair,viajar, curtir e aproveitar muito mesmo essa oportunidade que estou tendo.

Foram 6 meses morando em Lyon dos quais nunca vou esquecer. Passei bons momentos com velhos amigos e com novos também, conheci pessoas, lugares, aprendi bastante e posso dizer que mudei em muitos aspectos. Contudo, acima de todas as experiências que tive uma coisa é certa e digo sem dúvida, Deus é soberano. E de todas as lições que tive nesses 6 meses que passei aqui, separo uma que julgo essencial: depender de Deus em toda e qualquer circunstância sabendo que Ele está presente em todo o tempo. Se eu fosse escrever todas as histórias impressionantes que vivi e que comprovam isso, eu precisaria de muitos e muitos bits de informação hehehe.

Nesse momento estou postando de Le Creusot, uma cidade da Borgonha francesa com apenas 23 mil habitantes e com um clima delicioso de cidade do interior. É aqui que vou morar os próximos 6 meses, trabalhando como estagiário na fábrica de turbo - compressores da General Electric.

Será uma fase totalmente diferente a partir de agora, vou viajar menos, (bem menos!) e trabalhar mais, (bem mais!) e estou super empolgado com tudo isso. Amanhã, dia 7 de março de 2011 é o meu primeiro dia de trabalho e confesso que estou sentindo um frio na barriga. Lembro que no meu primeiro post, escrito ainda no Brasil, falei sobre as emoções que estava sentindo ao vir para a França. Olhando para o passado e vendo tudo que passou, posso dizer, Deus é fiel. E é com essa certeza e com a mesma empolgação que escrevi aquele post, que me parafraseio agora:

“Eu não sei porque, mas é isso que me empolga, sei que vou me divertir com as situações que vou enfrentar, sempre funcionei melhor sobre pressão, e pensar que vou chegar num local desconhecido, com uma língua que não me é natural e onde não conheço fico ainda mais empolgado com a idéia de que preciso superar tudo isso. Peço a Deus sabedoria para agir em toda situação e sei que muito em breve estarei de volta contando ao vivo todas as façanhas de Yuri na GE!"

Vou dormir agora e esperar o momento de entrar naquela fábrica e glorificar o nome de Deus em tudo o que eu fizer...

Um Grande Abraço!

Salut! Et au Revoir!

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Estágio - Parte 1

Olhando a data do meu último post, eu fui ver que o intervalo de tempo que fiquei sem postar aqui foi bem grande hehe. Muita coisa aconteceu nesse meio tempo, muita coisa mesmo, desde viagens até eventos que mereceriam sem dúvida nenhuma serem registrados aqui, mas esse foi um período bem cheio e toda vez que pensava em sentar para escrever no blog, surgia alguma coisa pra fazer ou então a preguiça vinha e não deixava mesmo hehe.

Desde meu último post em que eu descrevia a experiência de fazer snowboard pela primeira vez, eu já fui mais algumas vezes pra outras montanhas e as histórias de cada uma eu vou deixar pra contar pessoalmente quando voltar, eu viajei pra mais alguns lugares, e ainda pretendo descrevê-los por aqui como fazia antes, mas isso também vai ficar um pouco mais pra frente, também não podia deixar de falar que meus pais e meu irmão vieram me ver, e esse período rendeu muitas boas histórias que com certeza vou escrever aqui ainda. Mas no post de hoje o objetivo é descrever uma série de eventos associados que culminou no momento que estou vivendo hoje e terá como ápice a próxima segunda feira, dia 7 de março de 2011.

Pra quem se lembra, num passado não muito distante, eu escrevi um post que falava sobre a minha busca de estágios por aqui na Europa. Foi um período trabalhoso, bastante tenso e no qual posso dizer que senti muita ansiedade, mas foi um período de crescimento, tanto pessoal como espiritual, pois sabia que apesar do meu esforço, a resposta final viria de Deus, e tentava deixar os resultados nas mãos Dele.

Muitos dos processos de contratação que acontecem por aqui são via internet, no qual é necessário se cadastrar num site e preencher certos campos de informação, enviar currículo, cartas de motivação e outras etapas bem automatizadas que pelo que pudemos perceber, não surgem muito efeito, pois elimina o fator pessoal do processo. Até então era tudo que eu tinha e eu estava me dedicando a isso, era pelo menos uma postulação de vaga por dia, em diferentes empresas e vagas de estágio, algumas mais atraentes que outras, mas o resultado parecia ser sempre o mesmo, a demora na resposta, e um email bem formal dando um aval negativo.

Aquilo não estava dando muito certo, e nossas fichas começavam a acabar, até que um belo dia nós obtivemos uma informação mais do que privilegiada. Iria acontecer um fórum de empresas para grandes écoles aqui em Lyon, visando exatamente promover o contato entre as grandes empresas de engenharia e os alunos universitários desse setor. Um amigo meu já tinha me alertado sobre esses fóruns, eles são a oportunidade única de entrar em contato direto com a empresa, dando a oportunidade de mostrar quem você é de uma maneira muito mais pessoal e além do mais de conhecer um pouco mais dessas empresas que podem vir se tornar os futuros locais de trabalho de quem for contratado.
Pois bem, entrei na internet e já me preparei para o que encontraria por lá, empresas como Volvo, Peugeot, General Eletrics, L’Oréal Paris, Renault, Technip, dentre outros gigantes das diversas várias áreas da engenharia estariam presentes e uma preparação pré fórum era mais do que necessária. Ajeitei o currículo, improvisei minhas cartas de motivação e esperei o dia do fórum como se espera o dia de uma prova importante.

Lembro-me bem daquela manhã, a neve havia começado a cair discretamente aqui na França, mas foi no dia 30/11 de 2010 que começou a nevar de verdade. Eu me arrumei para as entrevistas que poderia vir a ter, fiz a barba e coloquei um blazer para passar uma melhor impressão, e às 2 da tarde daquele dia caminhei debaixo da chuva de neve em direção à “cité internationale”, o local onde ocorreria o evento.
Ao entrar no local percebi que o negócio era ainda mais sério do que eu havia pensado, dentro de um galpão enorme, foram organizados vários stands, cada um mais chamativo que o outro, decorados e enfeitados de uma maneira que só a presença lá já valera o dia. Era uma competição entre empresas para atrair os futuros jovens engenheiros e uma competição entre os alunos para competir a vaga de estágio dos sonhos. E lá estava eu, como todos os outros, procurando meu lugar ao sol. Já havia listado as empresas que eu daria preferência no dia anterior e chegando lá demarquei as posições de seus stands, para começar a pensar em estratégias de aproximação em cada uma delas.

Eu precisava naquele momento de um pouco de confiança, pois qualquer nervosismo poderia prejudicar e engasgar no francês na hora H provavelmente não seria muito bem visto. Falei com o Bruno e resolvemos ir “praticar”. Havia muitos stands de empresas de consultoria e várias de empresas bancárias almejando alcançar engenheiros das áreas de comércio, e foi numa dessas, na qual não estávamos com nenhuma pretensão que resolvemos ir treinar um pouco. Cheguei ao stand da HEC Montréal e joguei a real com uma simpática senhora que estava por lá: “Opa, bom dia, tudo bem? É o seguinte, eu estou aqui para procurar uma vaga de estágio em uma empresa de engenharia, mas é a primeira vez que participo de um fórum desse e não tenho nenhuma idéia do que eu devo fazer, será que você podia me ajudar?”.

Ela riu pra caramba e graças a Deus foi super gente boa com a gente, falou como funcionava, algumas atitudes que deveríamos ter, conversamos sobre o Brasil, sobre a França e confesso que fiquei até atraído em fazer um MBA na HEC, mas o importante é que saímos dali mais confiantes e estávamos prontos pra começar a batalha.

Fomos passando pelos stands, participando de entrevistas, entregando currículos e cartas de motivação e a cada empresa que passávamos aprendíamos um pouco mais. Estava bem legal, não tínhamos certeza de nada, mas pelo menos estávamos conseguindo participar bem do evento. Foi aí então que passei pelo stand mais irado que eu tinha visto...Um Stand verde e branco com algumas luzes para dar um efeito visual , banners de propaganda, gráficos de áreas de atuação da empresa e Várias TVs de LCD penduradas mostrando um filme de um processo completo da fabricação de uma turbina, desde a concepção computacional até o momento de utilização da mesma. Era lindo, e eu acho que vi o filme umas 5 vezes seguidas hehe.

Aquela era uma empresa top, sabia que não tinha muitas chances por ali, mas aquilo me encantou e diferente dos outros stands em que eu cheguei me apresentando e falando o que gostaria de fazer, me aproximei da mademoiselle que estava lá recebendo os candidatos e falei: “Bom dia, tudo bom? Eu vi aqui esse vídeo da turbina e admito que fiquei muito impressionado, tem como você me explicar onde é isso?”.

Ela foi super simpática, me explicou aquele nicho de atuação da empresa, me falou a localização das indústrias, como funcionava, falou da empresa global como um todo, benefícios de se trabalhar por lá e no final pediu para ver o meu currículo. Conversamos mais um pouco e ela se ofereceu para enviar diretamente meu currículo para o RH do setor de turbomachines da empresa. Eu agradeci muito a oportunidade e após mais um tempo de conversa, eu saí dali, feliz com aquela entrevista, mas ciente de que a General Electric era um sonho utópico.

Fomos a mais algumas empresas para apresentar os currículos e no final eu saí de lá feliz por ter tido a oportunidade de ter participado daquele Fórum, sabia que seria difícil, mas graças a Deus, consegui fazer tudo que eu havia planejado e valeu muito a tentativa.

Mas foi no final do fórum, ao sair do prédio que tivemos a maior surpresa do dia, o mundo tava branco! Ao ver tudo coberto pela neve, a gente esqueceu que tinha acabado de sair de um lugar sério e se deixou levar pelo momento, admirávamos toda a paisagem, brincamos de guerra de bola de neve e ficamos um bom tempo antes de voltar pra casa curtindo tudo aquilo ali. Aquele dia marcou e apesar de sair de lá sem um estágio, agradeci muito a Deus por tudo aquilo e continuei esperando Nele, pois sabia que o melhor ainda estava por vir...



Um grande Abraço!

Salut! Et au Revoir!